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Channel: Ariela Bello
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É tudo inventado.

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Oi, tudo bom?
Aqui estou, depois de uma pausa não tão breve e voltando à forma de comunicação que me é mais natural, para compartilhar alguns pensamentos.
Aliás, já comentei por aqui que agora uso uma conta de Instagram? Não comentei, mas sim, lá compartilho de forma mais ou menos constante umas coisinhas em que penso, principalmente perguntas, e acho que pode ser um jeito mais dinâmico de manter a comunicação entre a gente. E tem umas fotos interessantes também.
Aliás, falando nisso, o aplicativo de celular “Instagram” é uma coisa inventada. Assim como é o conceito de aplicativo de celular e o próprio aparelho celular. Tudo é inventado. E foi lá no Instagram que primeiro eu me (te, nos) perguntei sobre isso: o que a gente anda inventando?

Porque, veja bem aonde cheguei com essa trilha de reflexão: se é tudo inventado, quem é que pode estar inventando? Oras.

Eu, você, todo mundo que a gente conhece, quem a gente não conhece, e mais todas as pessoas que vieram antes de nós e também as que ainda virão.

Nós, seres humanos, somos cultura, e cultura é pura invenção. Com um generoso toque de necessidades biológicas, é verdade, mas bastante imaginada, fora isso.

O modo com que a gente vive, as coisas de que gostamos ou desgostamos, o que achamos bonito ou feio, certo ou errado, e até mesmo grande parte dos nossos desejos e vontades – tudo isso é inventado ou é influenciado por conceitos e circunstâncias que nós inventamos e realizamos em algum momento. As coisas são assim porque nós somos e assim as fizemos.

Sim, você tem fome. Fome não costuma ser inventada. Mas o que você escolhe comer, como, quando e com que tempero? Invenção pura. Mesma coisa com o frio, que é real e concreto. Mas e a necessidade de ter aquela bota específica, que aquela moça do Instagram e aquela outra cantora usam por aí, pra acabar com o frio? Pois é, alguém inventou. A bota e a necessidade de tê-la.

Algumas coisas inventamos por pressão do contexto e pela sobrevivência, outras, pelo puro prazer de criar um negocinho. Mas então, tudo inventado. Há coisas e ideias sistêmicas e antigas também inventadas – dinheiro, emprego, família nuclear, garfo e faca, culpa, patriarcado, capitalismo, monogamia, racismo, que rosa é cor de menina, que nós moramos dentro de quadrados e retângulos de concreto e mais uma infinidade de coisas.
E sim, é verdade que essas invenções antigas e importantes marcam seu peso em nossas vidas, mais pra uns do que pra outros. Quando você chegou por aqui, provavelmente muito do que há já estava inventado, muito do mundo já existia.  E essas invenções parecem estar aí há tanto tempo, são repetidas por tantas pessoas e mantidas por tanto poder que fica difícil acreditar que as coisas podem acontecer de outro jeito. Não é tudo que é possível reinventar ou desinventar assim, sozinho, só porque se quer, na hora em que dá vontade. Verdade.
Inclusive, é interessante lembrar que talvez a existência de poder não seja inventada, mas o que enxergamos como poder atualmente também faz parte de algo que criamos, é cultural. Muda com a época, com o lugar, com as necessidades. E aí, quanto mais poder, mais fácil fica inventar o que se quer? Quanto menos poder, mais inventam por você? Talvez sim.

E talvez não. Isso rende uma longa, e provavelmente inconclusiva, reflexão sobre como se dá a criação da cultura, o quanto as posses e o poder influenciam nela, o quanto a resistência ao que é imposto e os pequenos atos de oposição causam grandes mudanças e muito, muito mais.

Não tenho a ambição de tentar aprofundar essa reflexão específica aqui, mas é preciso ter tudo isso em mente pra pensarmos juntos. Nós inventamos e desinventamos o mundo a cada momento. Talvez essas mudanças aconteçam de forma lenta e cíclica, mas elas acontecem, sim. Afinal, se hoje questionamos o lugar de negros e mulheres na sociedade, se falamos de sustentabilidade e fake news, se compramos coisas pelo celular e postamos tudo isso no Instagram, é porque a nossa imaginação continua impactando a realidade, inventando e desinventando.

E, se parece possível mudar até o mundo lá fora, tão vasto e distante e no campo das ideias, o que será possível fazer com o nosso mundo interno, particular? Com a nossa realidade imediata?


O que quero é justamente falar desses pequenos atos e escolhas pessoais e de como eles impactam a vida quase sem que a gente perceba. Nós também temos um sistema individual de coisas inventadas, que podem ou não coincidir com O Grande Sistema, mas que de forma muito intensa interferem na nossa vida. Melhor dizendo, inventam e criam a nossa vida como ela é.

Sabe quando você vê alguém fazendo algo que considera inimaginável para você? Pode ser usar aquela roupa, trabalhar com aquela coisa ou se relacionar com aquele tipo de pessoa. Deixei assim genérico justamente para o seu cérebro te dar a dica do que seria. Daí, você pensa: nossa! não!, mas isso é impossível.
Hmm. Impossível pra quem? É só dar uma olhadinha pra o lado de novo, com os olhos mais atentos e a postura mais receptiva, e você percebe que há um monte de gente por aí fazendo exatamente isso. Para cada coisa supostamente “impossível” para você, tem gente que já fez e faz, faria mais ainda e sem pensar duas vezes.
Porque cada um é inventor do que é possível na própria vida. Então, acho que é mais uma questão de que palavra usar, e eu voto naquela que usei no início. Inimaginável. A maior parte das coisas não é impossível, mas há as que não nos imaginamos fazendo, que não inventamos daquele jeito pra gente. A ideia de ser assim está tão longe do nosso campo de invenção e criação, que é mais fácil dizermos que está fora do campo da possibilidade, mesmo que esteja acontecendo bem ali na nossa frente.
Aqui, vou fazer questão de repetir: inventamos o que é possível pra nós dentro de alguns limites, mais severos pra uns que pra outros. Há aspectos da realidade que são difíceis de contornar, especialmente se pensarmos de forma sistêmica. Este não é um texto de coaching-meritocrático-motivacional-ignorador-da-desigualdade. Também não estou falando da lei da atração nem que tudo que você quiser o cara lá de cima vai te dar, basta o poder da imaginação. Reforço isso aqui e confio que quem me lê vai aplicar essa devida ressalva.

O que estou pontuando é que, dentro da parte que nos cabe criar, é muito comum que a gente se limite. O que a gente é capaz de inventar é diretamente influenciado pelo que aprendemos que é certo ou errado, que pode ou não pode, pelo que nos foi passado via palavras e exemplos e por todas as experiências constitutivas que tivemos ao longo da vida.

E sim, nós precisamos dessa orientação inicial para aprender a conviver uns com os outros sem bater no coleguinha ou causar um colapso na civilização humana (nem sempre funciona). Porém, grande parte das vezes, essas orientações se tornam limitantes. Será que é verdade mesmo esse tanto de “
não posso e não devo”?

Essas valem.

Aqui no site, já falei algumas boas vezes sobre isso, como situações que nos causam sofrimento podem se beneficiar de uma mudança de perspectiva. Aliás, justamente por isso que escrevo – para compartilhar e aprender sobre invenções e jeitos de inventar.

E sim, a maioria dessas coisas que parecem tão pesadas e imutáveis são coisas em que podemos mexer, inventar de outro jeito. Seja a forma como você se enxerga, a forma com que lida com problemas, o que considera aceitável fazer, como se relaciona com o seu corpo, como escolhe cuidar da sua saúde, que olhar tem sobre o seu cotidiano, como encara a felicidade e muito mais.

Porém, por mais que o que eu digo esteja fazendo sentido aí e que realmente exista um incômodo, algo que você gostaria que fosse diferente, pode ser que falte uma pecinha. Faz sentido na cabeça, mas não “bate”, sabe? Você lê isso faz um sentido meio esvaziado, sem aplicação exatamente. Pode ser? Está sentindo isso aí?

Na verdade, pensei que poderia estar acontecendo porque me imaginei lendo esse texto. Ele me pareceria coerente e interessante até, mas aí eu fecharia a página e deixaria a ideia de lado. Porque não saberia o que fazer com ela.

E acredito que isso aconteceria porque não é possível aprender outro jeito de inventar apenas lendo textos. Quer dizer, esse compartilhamento de ideias é muito bom pra acender a criatividade, gerar questionamentos eexplorar outros pontos de vista, claro. Mas seu efeito não é duradouro.

Porque, muitas vezes, os limites da nossa invenção não estão claros para nós mesmos.

Acho improvável que aconteça aqui aquele momento a-há, era isso que eu estava inventando errado! Nem tudo estará resolvido depois que acabar de ler.

Se esse texto despertou algo aí e se apareceu a vontade de inventar diferente, é possível que você sinta algum incômodo, pode ser que já exista angústia. Esse é o começo.

Mas antes de inventar diferente, vem o momento de tomar consciência das invenções que não estão dando certo, que você pode estar repetindo. Talvez elas estejam ultrapassadas, talvez elas tenham servido em algum momento, mas agora só atrapalham. Talvez você simplesmente não queira mais. Talvez elas não sejam nem suas, e você acreditou que eram. E, mais importante, talvez você nem saiba que elas estão aí.

O sistema inventado através do qual você vive todos os dias tem partes que são só sobre você, sobre a sua história pessoal e as suas vivências. Ele dita os pequenos atos e escolhas individuais que impactam a vida quase sem que você perceba, e a chave da mudança está justamente em perceber.
Como?

Falando, se ouvindo, sentindo e expressando o que você tem feito e o que você deseja de diferente. O que só você sabe. E o que nem sabe que sabe. Ah, e aquilo que não sabe mesmo, mas que pode aprender. Assim, você alcança o seu poder de invenção.
E vidas inventadas de formas diferentes impactam a cultura – Inventores mais conscientes podem ser também mais competentes. Quem sabe, nós podemos ter aí um bom caminho de invenção coletiva.

Resta explorar.

E aí, como você tem inventado a sua vida?


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